segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Wikileaks, a orkutização

Demorei dias pra escrever sobre o "Wikileaks. Não porque estava em dúvida sobre sua importância ou porque não gostasse do trabalho desenvolvido pelo site. Simplesmente queria sentir algo impactante q condiz com minhas idéias sobre tecnologia.

Eu concordo com o fato de os telegramas vazados das embaixadas americanas serem a principal denúncia do site até hoje. As denúncias do Iraque e Afeganistão, divulgadas anteriormente, são visualmente mais fortes. Ver uma ação que metralha civis e jornalistas seguida de um comentário de trabalho bem feito é muito mais impactante no começo. Ver as torturas cometidas contra presos de guerra antes do almoço não é recomendável. Mas, saber que a principal potência do mundo troca mensagens de picuinhas sobre líderes mundiais baseadas em reportagens de jornais é muito mais triste. Para nós, habitantes de um país considerado periferia do mundo, é degradante.

Nós sabemos as mesmas coisas que a Hilary Clinton e os falcões da Casa Branca sabem... TERRRÍVEL ISSO!!! pra eles... e para os contribuintes americanos.

Aliás, os contribuintes americanos são os maiores beneficiados com o Wikileaks.

Pelo site eles souberam que:

  • - os impostos pagos são pessimamente usados pq só trazem informações conhecidas e os serviços de inteligência estão comendo dinheiro.
  • - estão pagando por tortura. (tem quem goste, tem quem não goste e paga do mesmo jeito).
  • - O dinheiro dos impostos não impede vazamentos para terroristas.
  • - Os políticos americanos não encaixam no mundo atual da Internet.

Mas, a coisa mais marcante que ficou na minha cabeça sobre o Wikileaks é o seguinte:

Wikileaks é a Orkutização do jornalismo investigativo.

Antes, investigar tretas de governo e empresas era coisa de jornalistas especializados. Aqueles que tinham acesso privilegiado às fontes que burlavam a segurança oficial para vazar documentos que provavam alguma atitude antidemocrática ou ilícita.

Isso agora é do Povão.

Qq um pode investigar.

Qq fulano pode ser um Bob Woodward e Carl Bernstein. Ou... melhor... qq ZéMané brasileiro pode ser melhor que o César Tralli, da Globo.

Para isso, basta acessar o Wikileaks e ir fuçando os documentos. Não é um trabalho fácil. Precisa entender alguma coisa de investigação. Tem de cruzar mais de um documento ou, no mínimo, ver a época em que foram divulgados e qual o contexto histórico de qq declaração. Mas, tb não é um bicho-de-sete-cabeças. Um pouquinho de massa cinzenta resolve.

Talvez, por isso, o maior medo que tenho visto em relação ao Wikileaks venha de gente que tb teme a orkutização de tudo. Existe um povo que não gosta de povo. Eles têm medo que sua privacidade vaze.

Oras, eu não entendo isso. Na quase totalidade, é um tipo de gente que tb está no Facebook. E o Facebook vaza muito mais dados pessoais do q o Wikileaks. O q o Wikileaks tem feito é vazar dados do governo e empresas para você. O q o Facebook faz é vazar dados seus para empresas e governo. Não entendo esse cagaço.

Sobre as análises até aqui do Wikileaks, eu acho todas válidas.Mas, com ressalvas.

- Guerra Cibernética - OK. É sim. Provavelmente a primeira cyberwar em âmbito mundial. Mas, já existiram outras. Georgia, Estonia, Taiwan e Myanmar já sofreram ataques cibernéticos e há quem diga que o próprio governo americano faz isso constantemente e chegou mesmo a fazer para tirar o Wikileaks do ar. Só q cyberwar é um pedaço de um conceito maior chamado Guerra de Quarta Geração... muito pior. Sem defunto. Ou melhor, sem corpo e a distância.

- Anônimos como força. Isso é super OK. Mas, tb foi um caso isolado até agora. Foi a primeira vez que uma quantidade extraordinária de gente que não entende de hacktivismo lutou. Qdo eles se reunirão novamente é uma incógnita. Não vai ser toda hora.

- Tendência. Sim. Outros sites como o Wikileaks vão proliferar. Mas, mais do que os sites, a atitude de vazar pode contaminar muita gente na Internet. Divulgar informações que revelam ações ilegais para a concentração de poder devem dar o tom nos próximos anos. Não tem a ver com o verbo vazar exatamente. Tem ligação com a força que a transparência e a sustentabilidade tem conseguido com os consumidores.

- Medo. Eu não gosto, mas até entendo o medo de quem vê no Wikileaks uma semente de uma atitude anti-privacidade. O site em si não tem motivo nenhum para isso. Ele só mostra como governos, principalmente o americano, é ruim e antidemocrático. Mas, há outros movimentos pelo mundo que podem se misturar no hype da discussão e fazer um melê. Há um site que vaza declarações sobre colegas de profissão. Certamente virão outros e virão paralelamente ao Wikileaks. Podem começar a ganhar mais vitrine pq de alguma forma tb são ligados a vazamentos.

- Julina Assange é um herói? Não. Isso é coisa de livros e cinema. Não existiam heróis que não tivessem pisado no tomate antes e não existem ainda. Assange é um gestor de um site importante para o mundo atual. É acusado de um crime comum em muitos países, mas grave na Suécia. Deve responder por isso pq é algo que afeta a relação e o respeito pelas mulheres. É humano e, provavelmente tem mais defeitos do que qualidades. Mas, sem ele a gente não estaria com os pelos ouriçados agora. É, sem dúvida, o personagem do ano.

Há muitas perguntas para serem respondidas ainda sobre o Wikileaks e Julian Assange. Mas, essas são as minhas certezas.

1 comentários:

Anônimo disse...

Acho que com tantos "leaks" o mundo vai ficar muito mais paranoico do que já é. Em relação ao Facebook, acho a política dos aplicativos um dos piores tipos de invasão de privacidade que possa existir. Todo mundo libera informações sobre os perfis de sua rede para ter acesso aos testes, biscoitos da sorte etc. etc. Nada contra os conteúdos dos aplicativos, mas a política de acesso é descaradamente invasiva, e o pior é que somos nós mesmos que "entregamos" o dados de outras pessoas sem a menor cerimônia ou consciência.

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