segunda-feira, 26 de abril de 2010

A inovação tecnológica, o tempo e o hype

Ao falar sobre novas idéias eu sempre gostei mais da imagem da peneira do que a do divisor de águas. Quando uma nova descoberta muda os conceitos e formas de produção no mundo, não há um desvio no qual uma parte das empresas e pessoas toma uma direção errada enquanto outra parte segue o fluxo por outro caminho. O que existe é uma barreira. Quem consegue passar por ela continua sua vida - bem transformada, é verdade. Quem não consegue ultrapassar esse ponto acaba ficando pra trás.

Não é questão de perder o rumo. Pra lá ou pra cá. É avançar ou parar.

É a hora da decisão.

Bobeira na peneira, não.

Esses momentos dão a impressão que surgem do nada. A gente está lá pela vida, de bobeira, e ... záz! Aparece uma novidade tecnológica que muda nossa vida como se fosse enviada por um portal interdimensional ou colocada na frente do nosso nariz pelo dedo de Deus.

Nós somos assim deslumbrados mesmo com tecnologia. É um comportamento que nos impede de sentir as novidades nascendo.

A primeira pesquisa científica que vc fala: UAU! Embora não tenha a mínima idéia de onde aquilo possa ser usado.

O primeiro experimento que aparece no noticiário com fotos. Embora vc não entenda porque aqueles caras de avental batem palma para aquela zona de fios, luzes piscantes e gráficos coloridos.

O primeiro produto lançado no mercado - e invariavelmente cheio de falhas e com desempenho ridículo.

É difícil saber como será o futuro. E também não é.

O começo do que vai ser o mundo daqui a 15, 20 anos está aí. Em algum lugar... mas está.

Celular, Internet, globalização, relacionamento digital. Em algum momento isso estava ali, clamando por atenção. Quer um exemplo? As tão faladas redes sociais de hoje já eram possíveis de serem visualizadas há 10 anos. Sites como Classmates, SixDegrees, AsianAvenue, BlackPlanet e MiGente já mostravam o potencial da web social por volta do ano 2000. Dez anos atrás. (e nem estou lembrando de fases anteriores da Internet, como o BBS).

No link do video abaixo, o cientista-chefe da IBM, Fabio Gandour, faz uma conta sobre isso. Ele diz que - com sorte - demora de 9 a 14 anos para uma inovação tecnológica sair das universidades e virar um produto à venda no mercado.

Ele lembra do iPod. O MP3 player da Apple só foi possível graças aos estudos da

magnetorresistência gigante
que tem sido conceitualizada desde os anos 80.

O nome é complicado, mas é esse fenômeno que permitiu a criação de memórias MRAM (Magneto-resistive Random Access Memory), que são peças fundamentais no iPod, netbooks e vários dispositivos de comunicação móvel.


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E o que vem por aí? Gandour dá algumas dicas no vídeo. Elas coincidem com a opinião de outros cientistas brasileiros que entrevistei recentemente. As apostas são em estudos que ampliam (e muito) o que temos hoje.

São áreas como a Domótica, uma união de domus (casa) e robótica (controle automatizado). Ambas desenvolvidas na base de muita rede wireless de banda larga e muito sensor para ampliar o espectro da informática e criar a chamada Internet das Coisas.

Outras pesquisas são realmente coisas novas: modelagem matemática de fenômenos, spintrônica, cinética química e genômica funcional. Elas devem influir de novos materiais a novos processos industirais e, possivelmente, a previsão do comportamento do consumidor e concorrência no mercado.

Grafeno e nanotubos de carbono são a melhor aposta para expandir ou modificar a Lei de Moore no mercado de chips. Esses nanomateriais possuem propriedades mecânicas, eletrônicas, óticas e de transporte de elétrons inovadoras e podem revolucionar a computação como a conhecemos. Isso, se não forem substituídos por computação química ou pela fotônica, que aposentaria os elétrons que são a base de quase tudo que conhecemos hoje em termos de equipamento e comunicações.

O cenário pode ficar ainda mais complicado com as descobertas do colisor de partículas LHC. Conversando com o prof. Sergio Novaes, da Unesp, que faz parte dos estudos, fiquei impressionado com as possibilidades de renovação tecnológica que isso pode trazer. Ele mesmo não arrisca a imaginar novos produtos ou negócios saídos das descobertas -- É tudo ainda ciência pura. É como um bebê que a gente não sabe o que vai ser quando crescer, disse ele quando o entrevistei. Contudo, ele lembra que foram essas pesquisas sobre partículas, a necessidade de fazer cálculos monstruosos e de comunicação dos cientistas que nos deram a WWW que conhecemos hoje.

Não dá pra ficar apostando em tudo que está surgindo. Mas, é possível ao menos ficar de olho e - quando surgir a tal peneira pela frente - conseguir uma brecha para passar e não ficar pra trás, lamentando como o mundo mudou.

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