domingo, 22 de novembro de 2009

Entendendo a briga Chrome OS e Windows

Quando a Microsoft lancou o Windows, em 1985, o sistema operacional não era algo muito glamuroso no mundo da informática. Ou até era, mas não chegava aos pés de qualquer hardware. As máquinas eram as rainhas da época.

Isso tem uma explicação muito simples. A máquina determinava a evolução. Qualquer byte a mais na memória, no processador, qualquer ponto a mais de definição no monitor, enfim, qualquer novidade mínima no hardware era saudada pelo mundo inteiro. E quando eu digo qualquer era realmente qualquer. O desempenho dos computadores no meio da década de 80 era inferior a muito carro com tecnologia embarcada, celular meia-boca e até de muitos aparelhos eletrônicos que se pode comprar em camelôs pelo Brasil. Portanto, qualquer mínimo avanço era um grande passo que levava todo o mercado junto.

Quem dominava esse mundo do hardware era a IBM. Haviam outras companhias que nem vou citar o nome pq até se tornaram irrelevantes ou sumiram do mercado. Para facilitar o entendimento da importância do Chrome OS, atenham-se à IBM.

O mundo da informática girava em torno da IBM e a Microsoft era uma das fornecedoras. Umas das importantes, com o software que fazia a máquina funcionar e era uma espécie de tradutor da linguagem humana para a linguagem dos computadores. Mas, era apenas mais uma na lista de companhias que ajudavam o negócio da IBM crescer.

Um dia, o dono da Microsoft descobriu que as máquinas não eram nada se não houvesse algo que fizesse o intercâmbio de informações entre os humanos e elas. Computadores não eram nada sem um sistema operacional (SO), até pq, sem isso, eles ligavam mas não faziam absolutamente nada a não ser piscar uma luzinha verde irritante no monitor.

Então, o dono da então quase desconhecida Microsoft decidiu usar um truque de negócios muito eficiente e que faz parte da cartilha do bom capitalismo. Ele commoditizou o concorrente criando um novo paradigma de uso e consumo... Hã? Não entendeu? Complicou? Pois é fácil de entender.

Bill Gates sacou a importência do sistema operacional para a máquina e passou a trabalhar para que ele fosse ainda mais importante. As primeiras versões do Windows eram um lixo, mas já davam mostras do que era pretendido. O sucesso da estratégia veio mesmo com o Win 3.x, sucesso de vendas (e de pirataria) e realmente algo multitarefa e inovador.

O Windows 3.x era tudo que os usuários (usuário é um nome pedante para definir humanos consumidores, se é que vc não sabe disso) queriam. De uma hora pra outra, as pessoas passaram a perguntar nas lojas se havia o novo Windows pra vender e esqueceram dos PCs IBM.

Com isso, o computador ficou atrelado ao SO. Esse, por sua vez, passou a ter mais valor para os consumidores do que o computador.

Com isso, a IBM entrou em crise. Quase afundou. E só foi salva por um executivo sensacional e de grande visão de negócios, Lou Gerstner. Ele reuniu a cúpula da empresa e disse: "putada, fodeu. Ou a gente começa a faturar em cima de algo que não seja máquina ou vamos começar a engraxar sapatos de moleques que estão criando empresas de software" (bem, não foram essas as palavras exatas, mas vcs entenderam o discurso dele, que provavelmente foi muito mais polido).

Gerstner mudou o foco da empresa, fazendo a IBM desencanar do hardware e se preocupar em oferecer serviços em cima do hardware - dela ou de outros. Foi uma estratégia de grande sucesso e é digna de estudo até hoje.

Mas, pra entender o Chrome OS, a
história importa só até aí.


Pois bem, com o PC tendo valor igual a uma lata de óleo de soja e com diferenças exatamente iguais as que vc encontra na prateleira desses produtos no supermercado da esquina (pra quem não sabe o que é commoditização, essa é uma das melhores explicações), a Microsoft cresceu, floresceu e... bom, é o que é hoje.

Mas, a Microsoft nunca precisou mais usar o artifício de commoditização do concorrente. Usou dumping contra a Netscape (o caso mais clássico), desqualificação (com o Linux), sedução econômica (com o Yahoo)... Mas, commoditização nunca mais.

--> Agora é a hora que fala realmente do Chrome OS. E, se vc leu até aqui
achando que ia ter um tratado sobre isso... esqueça. Afinal, ficou simples
de entender.

Com o lançamento do Chrome OS, o Google está fazendo a mesma coisa que a Microsoft fez com a IBM. Está commoditizando o SO pq descobriu que a importância está nos aplicativos e na Internet.

Olhe, por exemplo, para o navegador Chrome. Vc digita uma frase no lugar do endereço do site e ele automaticamente vai buscar o que aquilo significa. Isso é um aplicativo do navegador. Importante pra caramba. Que outros aplicativos úteis poderia ter um navegador?

Se o aplicativo do navegador é útil, imagine por um momento o navegador mesmo. Ele é o não é o seu aplicativo mais usado? Se não for, garanto que está entre os três mais usados. É ou não é? (claro que é, afinal vc está lendo isso, então tem conexão e sabe lidar com conteúdo online. Não é qq público que está iniciando agora na web ou está na exclusão digital).

Então, a tática do Google é a mesma que a Microsoft usou contra a IBM. Não é lindo isso?... bom, diga vc. Pq o dia que eu começar a achar lindo esse tipo de rotina mercadológica, jogo todos os meus livros sobre Klimt no lixo.

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