O fim do Yahoo sem um fim
TweetA crise do Yahoo é mais do que uma dificuldade da empresa no modelo de negócio que se meteu, é uma novelona. Tipicamente, o Yahoo é uma empresa de Internet. Há e-mail, buscador, comunidades, serviços on-line, música e tudo que pode se imaginar para uma empresa assim. Mas, de tudo isso, em que o Yahoo tem liderança? Em praticamente nada.
Sua liderança considerada mais valiosa, pelo menos em números palpáveis, é baseada no conjunto do que oferece. Enquanto o Google tem 121 milhões de visitantes em tudo que torna disponível on-line, o Yahoo tem 139,5 milhões. O site Yahoo Heath, sobre saúde, tem sido a vedete dos últimos meses, por exemplo.
Só que isso não adianta muito, já que perde no principal negócio do mundo, o de publicidade atrelada ao mecanismo de busca. É bem verdade que o Yahoo cresceu mais que seu concorrente principal no primeiro trimestre de 2008, mas continua em segundo lugar. O Google domina ainda.
E, na selva do hipercapitalismo, uma corsa que já não tem tanto vigor vira alvo de leões. O Yahoo continua desejado por Microsoft, AOL e NewsCorp (dona do MySpace), conforme dá para seguir no noticiário internacional . O valor, estimado pela oferta da Microsoft, é de US$ 42 bilhões. Todos esses pretendentes são claros sobre seus objetivos, querem o negócio de buscas+publicidade do Yahoo. Bem ou mal, estão visando a vice-liderança de mercado e, se a diferença entre o primeiro e o segundo lugar é grande, ela é ainda maior para os demais.
Para se ter uma idéia desse apetite causado pelo Yahoo, basta ver a Time Warner. A empresa gastou recentemente US$ 2 bilhões em compras para tentar transformar a AOL de um provedor de acesso em um gerador de receitas de publicidade e serviços on-line. A última compra, do site de comunidade Bebo, em março, custou US$ 850 milhões e não convenceu ninguém que o caminho estava pavimentado.
Enquanto os negócios Yahoo vão mal, a identidade continua inabalável.
O legado do Yahoo para a Internet é imenso. É fácil achar por aí o histórico do surgimento e do sucesso da empresa, que nasceu de uma garagem e se tornou uma das principais marcas desse mundo on-line. Outra boa medida do quão importante se tornou o Yahoo é a fortuna que gerou para seus dois principais sócios. Jerry Yang tem 54 milhões de ações da empresa avaliadas em US$ 1,5 bilhões. David Filo, por sua vez, possui 78 milhões de papéis calculados em US$ 2,2 bi.
Em fevereiro, Yang enviou uma carta aos acionistas pedindo para que eles não aceitem uma possível oferta hostil da Microsoft para compra das ações deles. Esse mecanismo é comum, uma empresa que queira adquirir outra e fracasse nas negociações com os principais executivos pode oferecer dinheiro para comprar os papéis dos demais acionistas e assim se tornar dona dela. Yang, no texto, pedia um crédito por tudo que já fez pelo Yahoo e enfatizava que a cúpula da empresa estava se movimentando o mais rápido possível para botar tudo de novo nos trilhos rumo a liderança perdida. A carta trazia um bom resumo do que era a empresa e dos serviços mais usados.
O passado estava se confrontando com o presente.
O pedido aos acionistas é louvável. Mas, o problema é que se o Yahoo está se movimentando, o Google continua correndo. Uma possível parceria com a SalesForce.com pode impulsionar ainda mais a empresa para o tão falado mundo dos aplicativos on-line. A união dos editores de texto, planilhas e demais facilidades do Google com o serviço de gerenciamento do relacionamento com clientes da SalesForce.com certamente terá muito eco nas manchetes e na bolsa de valores, jogando um balde de água fria em qualquer iniciativa do Yahoo.
Refletindo sobre a carta de Yang aos acionistas, é fácil perceber que a crise dos negócios foi provocada recentemente e há um belo histórico de administração confiável. Mas, deixa também a impressão que houve um pouco de contaminação do próprio sucesso, que não deixou agir no momento certo para responder ao crescimento acelerado do Google. Resumindo: indecisões e falta de determinação.
A novela Yahoo ainda não teve um fim. E a compra provavelmente não será o último capítulo. A marca é um belo patrimônio, talvez o melhor ativo de tudo que há por lá. Analistas são unânimes em dizer que não há como o Yahoo ter fôlego na briga contra o Google sozinho. Mas, também, dos pretendentes, nenhum foi páreo para o gigante da Internet até hoje. E ainda haverá mais dúvidas.
Quem adquirir o Yahoo vai ter de conviver por meses com os processos de fusão, que se complicarão com questões tecnológicas e de modelagem dos negócios atuais. Por exemplo, como integrar as buscas e a publicidade de um com o MSN ou o MySpace?... Lembrando que o Google também vasculha (e fatura) por lá.
Seja lá por onde se tente analisar a situação o óbvio parece ser sempre a força da marca. O Y!, geralmente em um roxo brilhante, parece indelével. Alguma coisa precisa ser feita com isso. Marcas são intangíveis, mas também podem virar dinheiro vivo.
Não dá para saber o próximo capítulo dessa novela. Pessoalmente eu creio ser possível tanto o Yahoo conseguir driblar todas as ofertas como também ser comprado por uma das empresas citadas ou por uma outra que ainda não entrou no jogo. Mas, minha principal atenção estará voltada para a marca. Quero ver o que vai acontecer com a Y! roxa. Acho que é ela o mocinho da trama.
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